quarta-feira, 14 de maio de 2008

"Os Caras" e Belchior

Caso Comum de Trânsito
Belchior

Faz tempo que ninguém canta uma canção falando fácil...
claro-fácil, claramente...
das coisas que acontecem todo dia, em nosso tempo e lugar.
Você fica perdendo o sono,
pretendendo ser o dono das palavras,
ser a voz do que é novo;
e a vida, sempre nova, acontecendo de surpresa,
caindo como pedra o povo.
À tarde, quando eu volto do trabalho,
mestre Joaquim pergunta assim pra mim:
- Como vão as coisas ?
Como vão as coisas ?
Como vão as coisas, menino ?
E eu respondo assim:
- Minha namorada voltou para o norte,
ficou quase louca e arranjou um emprego muito bom.
Meu melhor amigo foi atropelado, voltando para casa...
Caso comum de trânsito,
caso comum de trânsito,
caso comum de trânsito.
Pela geografia, aprendi que há, no mundo,
um lugar, onde um jovem como eu pode amar e ser feliz.
Procurei passagem: avião, navio...
Não havia linha praquele país.
- E aquele poeta, moreno e latino,
que, em versos de sangue, a vida e o amor escreveu...
Onde é que ele anda?
- Ninguém sabe dele...
- Fez uma viagem ?
- Não, desapareceu.
Deita ao meu lado.
Dá-me o teu beijo.
Toda a noite o meu corpo será teu.
Eles vêm buscar-me na manhã aberta:
a prova mais certa que não amanheceu.
Não amanheceu, menina.
Não amanheceu, ainda

"Os Caras" e Caetano Veloso


Terra

Caetano Veloso

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Ninguém supõe a morena
Dentro da estrela azulada
Na vertigem do cinema
Mando um abraço prá ti
Pequenina como se eu fosse
O saudoso poeta
E fosses a Paraíba...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu estou apaixonado
Por uma menina terra
Signo de elemneto terra
Do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza
Terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guia...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu sou um leão de fogo
Sem ti me consumiria
A mim mesmo eternamente
E de nada valeria
Acontecer de eu ser gente
E gente é outra alegria
Diferente das estrelas...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
De onde nem tempo, nem espaço
Que a força mãe dê coragem
Prá gente te dar carinho
Durante toda a viagem
Que realizas do nada
Através do qual carregas
O nome da tua carne...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Na sacada dos sobrados
Das cenas do Salvador
Há lembranças de donzelas
Do tempo do Imperador
Tudo, tudo na Bahia
Faz a gente querer bem
A Bahia tem um jeito...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?
Terra!

"Os Caras" e Mario Quintana


Bilhete (Mario Quintana)
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho,
Amada,
que a vida é breve,
e o amor mais breve ainda...

"Os Caras" e o Náufrago

Tantos anos esperando nessa ilha.
Tantos momentos sozinho.
Tantos sonhos em vão.
Lá se vai o tempo em que vivia
Em que convivia com humanos.
Desterrado nessa praia
Perdido, iludido, vencido.
A esperar resgate.
Hoje mudei a história.
Vou desmanchar meu barco
Ou o que sobrou dele.
Numa jangada improvisada partirei.
Sem destino me lançarei ao mar.
Sei dos perigos, dos riscos, da morte.
Mas morte maior vivo aqui, agora.
Vou me lançar sem instrumentos.
Bussola, astrolábio ou sestante não tenho.
Apenas a força de meus braços.
E esses serão suficientes.

"Os Caras" e as Magias

Estou trancado no porão.
Tenho todos os símbolos.
Já tracei a estratégia.
Já preparei a poção.
Tenho todo o outono para mudar.
E como dizia Gil:
"- O velho rei Mú dança!
Então mudamos e dançamos.
O velho livro me acompanha.
O fogo fátuo ilumina.
E sei que a Bela estará me esperando na floresta.

"Os Caras", Vinicius e a Beth

A minha esposa (Vinicus de Moraes)

Às vezes, nessas noites frias e enevoadas
Onde o silêncio nasce dos ruídos monótonos e mansos
Essa estranha visão de mulher calma
Surgindo do vazio dos meus olhos parados
Vem espiar minha imobilidade.
E ela fica horas longas, horas silenciosas
Somente movendo os olhos serenos no meu rosto
Atenta, à espera do sono que virá e me levará com ele.
Nada diz, nada pensa, apenas olha – e o seu olhar é como a luz
De uma estrela velada pela bruma.
Nada diz. Olha apenas as minhas pálpebras que descem
Mas que não vencem o olhar perdido longe.
Nada pensa. Virá e agasalhará minhas mãos frias
Se sentir frias suas mãos.
Quando a porta ranger e a cabecinha de criança
Aparecer curiosa e a voz clara chamá-la num reclamo
Ela apontará para mim pondo o dedo nos lábios
Sorrindo de um sorriso misterioso
E se irá num passo leve
Após o beijo leve e roçagante...
Eu só verei a porta que se vai fechando brandamente...
Ela terá ido, a esposa amiga, a esposa que eu nunca terei.
(Postado para que a Beth visite meu blog sem resalvas e sem reservas)

"Os Caras" e uma bela poesia

É prá você

de Susana Mendes


É Pra você que chego...
com amor em forma de anjo
demônio em vestes de candura
a outra,
a mulher...
que amas e tanto queres
É pra você,
que faço melosa
Saudosa na espera,
ardente na entrega,
amante...
Mas tua!
Pra você,
Sou..
Urgências de encontros
onde esparramas teus versos
e deleitas -te
entre suores febris
e longos arrepios
neste corpo que é tão teu
Mesmo tendo
os nossos destinos de amantes
Espalhados a dois cantos do mundo,
Procuras -me...
numa cadência
que é própria do meu ser
É pra você que sou,
Mulher
plena de encantos
que se enrosca em tuas rimas,
e entre sorrisos nos lábios,
respirações ofegantes,
se entrega numa alucinada
demência de um amor delirante
Enfim...É pra você,
que sou inteira de amor
a paixão das tuas noites,
Lembranças nos teus dias,
tua...
Mas só pra você
(também postado para que a Beth me visite sempre que quizer)