sábado, 19 de abril de 2008

"Os Caras" e a Loucura do Poeta


A BUSCA DO POETA LOUCO

escrito em 31/05/2002



Não se vai aqui questionar em que nível chegou a loucura do poeta.
Enlouqueceu simplesmente.
Sem estágios intermediários,
sem meio-termo, sem ameaças, sem faz de conta.
Pirou. Pinel. Charcot.
Virou as costas e saiu andando.
Deu de ombros.
Desdenhou nossa razão e se foi.
Partiu.
Sem eira foi ali pela beira.
Marginal se ausentou da realidade.
Talvez dissesse que ia atrás de Zaratustra,
em busca do mito da caverna,
participar da guerra do fogo,
no encalço do santo graal,
percorrer a estrada de tijolos amarelos,
encontrar o caminho do Eldorado. Definitivamente não vamos aqui tergiversar
nem usar de subterfúgios para melhorar a fama do poeta,
nem vamos preservar sua imagem,
livrar-lhe a cara,
tirar-lhe o... da reta,
salvar-lhe a pele,
aninhá-lo nos braços e niná-lo.
Não, não vamos não. O poeta enlouqueceu e pronto! Dispensa-se o eletro choque,
o sossega leão,
a camisa-de-força,
o cloridrato de fluoxetina,
o ficar de bem dando o dedinho. Dispensam-se as mensagens de condolências,
as coroas de flores,
os epitáfios,
as tele-mensagens,
os telegramas cantados,
as olas da torcida,
as volta olímpicas,
os jogos de despedidas. O poeta enlouqueceu e é só! Não deixou testamento,
bens a inventariar,
penduras no boteco,
livros no prelo,
cartas para serem abertas depois. Não legou herança, esperança, crianças
nem lembranças... O poeta ficou de saco cheio e irmanou-se com a insanidade
e na sua idade
isto foi fundamental.
Tirou o cavalinho da chuva,
o burro da sombra,
desencostou do barranco,
deu bom dia pra poste. Que não venham com nome de rua,
praça ou avenida,
não precisa,
nem enredo de escola de samba,
não componham hino, nem acústico, nada... O poeta enlouqueceu...