domingo, 25 de maio de 2008

"Os Caras" e Paulo Leminski

AMOR BASTANTE (Paulo Leminski)

Quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante
basta um instante
e você tem amor bastante
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade,
eu e você,
caminhando junto.

"Os Caras" e Selma Reis


Se Bastasse Uma Canção
(Selma Reis)


Se bastasse cantar com ternura
Pra acalmar esses dias
Em que os homens perderam a doçura
De cantar morreria
Mais quem sou eu?
Mais quem sou eu?
Simples cigarra
Em que a voz é escrava
Da melodia
Se bastasse a canção da esperança
Pra inundar de alegria
A tristeza de nossas crianças
De cantar morreria
Mas quem sou eu?
Mais quem sou eu?
Simples cigana nas sendas profanas da poesia
Se bastasse cantar compassiva
Pra aplacar a agonia
Nessas terras de gente cativa
De cantar morreria
Mas quem sou eu?
Mas quem sou eu?
Simples agente da estrela regentedas sinfonias
Ë preciso muito, muito maisgente cantando
É preciso muito, muito mais
É quase um esforço sobre-humano
Pra conseguir mudar os planos
É preciso muito, muito mais gente cantando
É preciso muito, muito mais
Cantar a paz no mundo inteiro
É quase um esforço derradeiro
Se bastasse cantar com brandura
Pra estancar a sangria
Pro universo viver com candura
de cantar morreria
Mas quem sou eu?
Mas quem sou eu?
Simples cantante das noites dançantes
Das fantasias
É preciso muito, muito mais gentecantando
É preciso muito, muito mais
Cantar, cantar que ainda é tempo
Uma canção sem sofrimento
É preciso muito, muito mais gente cantando
Ë preciso muito, muito mais cantar com o céu,
Com os movimentos,
Cantar com a luz, com os elementos
Enquanto espero
Sigo cantando, e cantando e cantando
Eu vou vivendo